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Sofre com alergias na pele? Saiba como proteger-se.

A pele é o maior órgão do corpo humano e é seu invólucro, por isso fundamental para a nossa sobrevivência, atuando como barreira protetora contra agentes do meio ambiente, designadamente bactérias ou vírus. Tem, também, um papel essencial na regulação da temperatura corporal e nas funções sensoriais (tato, pressão, frio, calor, dor). Intervém, ainda, na expulsão de substâncias que necessitam de ser eliminadas pelo organismo.

Como qualquer outro órgão do corpo humano, e apesar da sua importância, a pele não está livre de problemas. Alguns deles são dolorosos e até embaraçosos, afetando não só a saúde física, mas também o bem-estar psicológico da pessoa.

Entre esses problemas, um dos mais comuns entre a população é o das alergias na pele, que podem manifestar-se de diferentes formas.


Os tipos de alergias na pele

Uma alergia, qualquer que ela seja, é uma reação exagerada do nosso sistema imunológico a um determinado estímulo, o que resulta num processo inflamatório e, por consequência, num conjunto de sintomas de maior ou menor gravidade.

No caso das alergias na pele, os sintomas podem variar, desde vermelhidão, inchaço, comichão, bolinhas ou bolhas. Por vezes, ocorrem mesmo sintomas sistémicos, como é o caso da dificuldade em respirar.

Existem quatro tipos de alergia na pele:

  • Dermatite de contacto: uma forma de irritação da pele causada pelo contacto com substâncias específicas.
  • Urticária: lesão na pele, de cor avermelhada, que surge em placas e com relevo, provocando comichão intensa. Pode ser desencadeada pela toma de medicamentos, alimentos, picadas de inseto ou contacto com substâncias (látex, tinta, pólen, saliva de animais, entre outras).
  • Eczema: lesão crónica na pele, do tipo erupção cutânea, com causas desconhecidas e que habitualmente tem início na infância. Costuma surgir em áreas de dobras, como na parte de trás dos joelhos ou dos cotovelos e no pescoço. Nos bebés, a face é normalmente a mais atingida.
  • Angioedema: tem a mesma origem da urticária, mas é bastante mais grave. Tem efeitos nas camadas mais profundas da pele e também nas mucosas, podendo provocar inchaço dos lábios, língua, olhos e vias respiratórias. É especialmente perigosa quando afeta a garganta e pode resultar em choque anafilático.

Dermatite de Contacto

A dermatite de contacto é a principal forma de alergia na pele provocada pelo contacto com substâncias do exterior. Ela aparece no local que esteve em contacto com o alergénico e manifesta-se por comichão, vermelhidão e borbulhas, que podem conter líquido e formar pequenas bolhas de água. Em alguns casos surgem pequenas feridas e crostas na pele.

Este conjunto de reações manifesta-se, no mínimo, um ou dois dias após o contacto com o alergénico e não ocorre logo na primeira ocasião em que tal acontece. Normalmente, a pessoa só se torna alérgica após ter estado várias vezes exposta a essa substância.

A dermatite de contacto pode ser desenvolvida por qualquer pessoa, sem distinção do género ou idade. O tipo mais frequente de dermatite pode levar de semanas até anos para aparecer, ou somente após múltiplas exposições a substâncias irritantes leves (como, por exemplo, sabões, champôs, detergentes, ou até mesmo devido à lavagem frequente das mãos). Normalmente, afeta indivíduos cuja profissão/ocupação envolve trabalho húmido.

Trata-se de um tipo de alergia na pele cada vez mais frequente nos países industrializados. Um estudo publicado em 2015 sobre a prevalência das alergias por contacto na população em geral em diferentes regiões da Europa, entre as quais Portugal, concluiu que a sua ocorrência é de 27%.

Este estudo revelou, ainda, que a substância alergénica mais prevalente é o metal níquel. No caso de Portugal, essa prevalência é de 18%, facto que levou os autores a aconselharem a adoção de medidas de prevenção.

Na verdade, em Portugal a alergia ao níquel é superior a 20% e afeta, sobretudo, a população mais jovem. Ela acontece, por exemplo, na orelha pelo contacto com brincos de fantasia (não de ouro), junto ao umbigo pelo contacto com o botão das calças de ganga ou com a fivela do cinto, ou ainda no punho devido à fivela da correia do relógio. É, também, frequente quando são usados piercings metálicos de baixa qualidade.

Este tipo de alergia na pele pode obrigar, muitas vezes, a perdas de dias de trabalho e até, frequentemente, a mudar de profissão, com todos os prejuízos que isso acarreta para o indivíduo.

As profissões de maior risco incluem o trabalho na indústria alimentar, os profissionais de saúde, cabeleireiras/os, esteticistas, funcionários de limpeza, trabalhadores rurais e da indústria de construção civil.

Eis uma lista que resume os principais alergénicos responsáveis pela dermatite de contacto:

  • Metais
  • Medicamentos tópicos
  • Perfumes
  • Sabões
  • Detergentes e amaciadores para a roupa
  • Champôs (ou até a exposição excessiva à água)
  • Adesivos
  • Tatuagens temporárias
  • Piercings
  • Esmaltes
  • Plantas
  • Luvas de látex

Por vezes, uma substância alergénica não causa reação na pele, a menos que esta também seja exposta à luz solar. Essa condição é chamada dermatite de contacto fotoalérgica e pode envolver produtos como a loção para a barba, protetor solar e alguns perfumes.

Os contextos em que a dermatite de contacto pode manifestar-se são os mais diversos e dizem respeito ao nosso dia-a-dia. Seguem-se alguns exemplos:

  • Na esteticista, devido à manipulação dos acrilatos das unhas de gel, causando dermatite das mãos e ao redor das unhas.
  • Em pessoas que pintam o cabelo, que podem sofrer comichão. Em casos graves, porém, pode ocorrer o inchaço da fronte e pavilhões auriculares ou da face, ou bolhas no couro cabeludo que deitam uma “aguadilha”.
  • Crianças e jovens que pintam tatuagens temporárias na pele podem desenvolver alergias de contacto graves, com marcas para toda a vida.

Tratamento da Dermatite de Contacto

O tratamento da alergia na pele de tipo dermatite de contacto divide-se em duas partes. Primeiro, o alívio da pele irritada. Em seguida, a determinação do que causou a reação alérgica, de forma a poder evitar o alergénio no futuro.

Para tratar a pele irritada, o médico pode prescrever cremes ou medicamentos orais que aliviem a comichão e ajudam a cicatrizar as áreas danificadas. Os anti-histamínicos ou as pomadas também podem ser úteis. Deve, porém, evitar coçar a zona afetada para prevenir o aparecimento de infeções.

De forma a ajudar o médico a identificar as possíveis causas da dermatite de contacto, sugere-se ao paciente que registe as suas atividades e os itens que considere poderem ter originado a reação alérgica. Caso não tenha a certeza, deve simplesmente fazer uma lista das coisas em que possa ter tocado com a pele nos dois dias anteriores ao aparecimento dos sintomas.

O médico pode optar, também, pela realização de um teste para apurar as possíveis causas.


Prevenção da Dermatite de Contacto

A exemplo de muito outros problemas de saúde, também no caso da dermatite de contacto é possível prevenir. E a melhor forma de o fazer evitar o alergénio.

Eis alguns conselhos:

  • Realize um teste
    Através da realização de um teste, o seu médico dermatologista pode ajudar a determinar quais são as substâncias a que se a sua pele é alérgica. De uma maneira geral, os testes utilizados para as alergias de tipo dermatite de contacto são os chamados Testes Epicutâneos ou Provas de Contacto.
    A realização é muito fácil: o médico aplica adesivos com alergénios nas costas do paciente, ao fim de dois dias, observa a pele para verificar a quais houve reação alérgica.
  • Evite produtos com Metilisotiazolinona
    Deve evitar a utilização de produtos que contenham um conservante chamado Metilisotiazolinona (MI), pois está provado que este produto é um grande indutor de alergias de pele por contacto.
    O Metilisotiazolinona é um líquido transparente e incolor, solúvel na água, que é comumente utilizado com a finalidade de aumentar a segurança e o prazo de validade de determinados produtos, como os detergentes para limpeza da casa e os cosméticos.
  • Cuidado com os esmaltes para as unhas
    A utilização de esmaltes permanentes para as unhas em casa é um importante fator de risco, pelo que, se quiser mesmo usar estes produtos deve recorrer a um profissional com equipamentos para aplicar e secar adequados.
    A alergia ao esmalte não tem cura e é causada pelo facto de a sua composição conter acrilatos (substâncias químicas elaboradas a partir de ácido acrílico).
  • Teste jóias e bijuteria
    Pode testar as jóias ou a bijuteria que usa, para avaliar se existe libertação de sulfato de níquel. Uma forma de o fazer é colocando uma gota de dimetilglioxima no objeto e esfregar com uma ponta de algodão. Se esta ficar com uma cor rosa, significa que a jóia/bijuteria está a libertar níquel. Não a use!
  • Cuidado com as tintas das tatuagens
    No caso das tintas de tatuagem, não existe um teste cutâneo que permita prever as alergias, pelo que a precaução é mesmo o melhor caminho. Sabe-se que são mais frequentes as reações nas tatuagens com cores elaboradas com metais, como os vermelhos, azuis e verdes.
    A sensibilidade ao sol com comichão ou sensação de queimadura na tatuagem é bastante comum. Deve, por isso, evitar estas tintas se detetar algum tipo de reação.

Urticária

A urticária é um tipo de alergia na pele que provoca muita comichão e manifesta-se através de pequenos inchaços (borbulhas), com cor avermelhada.

Pode ser desencadeada por uma dermatite de contacto em qualquer parte do corpo, mas também por reações alérgicas como:

  • Alimentos (especialmente amendoim, ovos, nozes e marisco);
  • Medicamentos (designadamente antibióticos – sobretudo penicilina e sulfas –, aspirina e ibuprofeno);
  • Picadas ou mordidas de insetos;
  • Estímulos físicos (como pressão, frio, calor, exercício ou exposição solar);
  • Transfusões de sangue;
  • Infeções virais (incluindo constipação comum, mononucleose infeciosa e hepatite);
  • Pelos de animais;
  • Pólen;
  • Algumas plantas;
  • Exposição ao sol (fotossensibilidade);

Os sintomas da alergia urticária podem desaparecer ao fim de alguns minutos (urticária aguda), mas também acontece perdurarem durante meses ou anos (urticária crónica).

Normalmente, a urticária não representa risco de vida, mas qualquer inchaço na garganta ou outro sintoma que restrinja a respiração exige observação médica urgente, pois pode tratar-se de um angioedema (situação bem mais grave).


Tratamento da urticária

O recurso a medicamentos anti-histamínicos, disponíveis sem receita médica ou mediante prescrição, são um tratamento frequentemente recomendado para a urticária.

Estes medicamentos atuam ao bloquearem o efeito da histamina, uma substância produzida pelo nosso corpo em situações alérgicas, que funciona como mediadora do sistema imunitário.

Os anti-histamínicos que não causam sonolência são os mais indicados, sendo eficazes e duradouros (basta uma toma por dia) e com poucos efeitos secundários.

O médico pode recomendar uma combinação de dois ou três anti-histamínicos para o tratamento da urticária, juntamente com a aplicação de compressas frias ou bálsamos para alívio da comichão.

No caso de episódios mais graves, pode ser necessário o tratamento temporário com prednisona, um medicamento corticoide.

Se a reação do paciente envolver inchaço da língua ou dos lábios, ou se tiver dificuldades respiratórias, poderá ser prescrito um auto-injetor de adrenalina como prevenção que a pessoa deve ter sempre à mão.


Prevenção da urticária

Eis alguns conselhos de prevenção da urticária:

  • Não comer alimentos que tenham sido identificados como causa da alergia urticária;
  • Em caso de comichão, evitar sabonetes duros;
  • Ainda em caso de comichão, os banhos frequentes podem também aliviar os sintomas;
  • Evitar roupas apertadas;
  • Se desenvolver urticária quando exposto ao frio, não nadar sozinho em água fria e levar sempre um auto-injetor de adrenalina;
  • Evitar a exposição ao frio, usando roupas quentes e um lenço para tapar o nariz e a boca;
  • Na exposição ao sol, usar roupas de proteção e aplicar protetor solar;
  • Avisar o médico ou farmacêutico imediatamente, caso haja suspeita de que um medicamento específico está a provocar borbulhas;

Eczema

Também conhecida como dermatite atópica, a alergia na pele de tipo eczema é uma condição inflamatória crónica, não contagiosa, caracterizada por comichão intensa, vermelhidão e erupções cutâneas escamosas. Por vezes, sobretudo quando infetada, a pele pode apresentar ligeiros inchaços que eliminam um líquido claro ou amarelado.

O eczema aparece e desaparece ao longo do tempo e se manifesta tornando a pele seca e sensível, podendo ter o seu estado agravado pela exposição a muitos estímulos diferentes, como, por exemplo, pelos de animais ou ácaros.

Entre os fatores de risco encontram-se, também, os sabonetes e loções com fragrâncias fortes. A exposição a perfumes e produtos de limpeza também pode provocar a irritação do eczema. Nalguns casos, as mudanças climáticas pioram o eczema, especialmente o ar seco do inverno.

Não sendo contagioso, o eczema é, geralmente, hereditário. É, aliás, particularmente comum nos bebés. Cerca de 60% das pessoas com eczema apresentarão sintomas no primeiro ano de idade e outros 30% terão sintomas aos cinco anos.

As crianças nascidas em famílias com histórico de doenças alérgicas, como a asma ou a febre do feno, apresentam maior risco de virem a desenvolver eczema.


Tratamento do eczema

Habitualmente, o médico pode realizar um teste, que envolve a aplicação de um alergénio diluído através de uma picada na superfície da pele. Durante cerca de 15 minutos observa a área testada para verificar se um inchaço (urticária) ou vermelhidão se desenvolve. Este teste é, normalmente, feito nas costas ou no antebraço em adultos e nas costas em crianças, com vários alergénios testados em simultâneo.

O tratamento do eczema visa permitir que o paciente leve uma vida o mais normal e sem sintomas possível.

Uma grande percentagem das crianças pequenas com eczema moderado a grave também têm alergias alimentares. Por essa razão, caso a criança continue a ter eczema mesmo após o tratamento, é recomendado que seja avaliada quanto a alergias ao leite, ovo, amendoim, trigo e soja.

O tratamento inclui, habitualmente, esteroides tópicos e/ou anti-histamínicos. Os casos mais leves podem ser tratados com pomadas como vaselina e hidratantes, aplicadas diariamente, mesmo quando a pele parece clara, pois ajudam a evitar que fique seca.


Prevenção do eczema

As pessoas com eczema devem:

  • Evitar produtos de limpeza agressivos;
  • Beber água com frequência;
  • Usar luvas em clima frio;
  • Evitar usar materiais que podem irritar a pele, como o caso da lã;
  • Evitar alimentos identificados como causadores de eczema;
  • Evitar a utilização de produtos cosméticos e sabonetes;
  • Prevenir o desenvolvimento de ácaros e o mofo;
  • Evitar respirar o pólen;
  • Evitar o contacto com pelos de cães e gatos.

No caso dos bebés com eczema, o médico pode aconselhar dar-lhe banho pelo menos uma vez por dia e aplicar um hidratante imediatamente após o mesmo.


Angioedema

O angioedema é uma concentração excessiva de fluidos corporais na pele, que causa um inchaço do tecido abaixo da sua superfície e pode ter origem numa reação alérgica. Surge, com mais frequência, ao redor dos olhos, lábios e rosto. Mas também pode ocorrer em outras áreas do corpo, nomeadamente na garganta, mãos, pés ou órgãos genitais.

Quando acontece na garganta pode provocar uma grave dificuldade em respirar, pelo que deve ser sempre encarada como uma emergência alérgica e requer tratamento imediato.

Eis uma lista que resume os principais alergénicos responsáveis pelo surgimento do angioedema:

  • Látex;
  • Pelos de animais;
  • Temperaturas quentes ou frias;
  • Pólen;
  • Luz solar;
  • Água;
  • Alimentos;
  • Picadas ou mordeduras de insetos;
  • Reação a medicamentos;
  • Deficiência hereditária ou adquirida (relacionada com um mau funcionamento de certas proteínas no organismo);

O angioedema pode ser confundido ou associado à urticária, pelo que é necessário estar particularmente atento a sintomas específicos e contactar o médico dermatologista ou o alergologista.

Os seguintes sintomas podem indicar angioedema:

  • Inchaço nos olhos, ou na boca;
  • Inchaço das mãos, pés ou garganta;
  • Dificuldade em respirar, cólicas estomacais ou inchaço das pálpebras.

Tratamento do angioedema

O angioedema com urticária é, habitualmente, tratado com medicamentos anti-histamínicos, corticóides e adrenalina, que permitem aliviar os sintomas.

Quando angioedema é crónico e aparece sem urticária, pode ser necessário recorrer a fármacos androgénios ou antifibrinolíticos, bem como analgésicos e antieméticos, devidamente receitados por um médico.

Nos casos em que provoca dificuldades para respirar, manter uma via respiratória segura é a principal prioridade, podendo obrigar à entubação.


Prevenção do angioedema

O evitamento das substâncias que provocam o aparecimento desta alergia na pele é o primeiro passo para prevenir novos episódios quando se trata de uma situação crónica.

Pode, também, ser utilizada medicação preventiva prescrita pelo médico, após a devida avaliação do paciente.

O cuidado com a saúde física geral é um importante fator preventivo, mas não deve ser esquecido o bem-estar mental, já que uma experiência de angioedema na garganta, com bloqueio das vias respiratórias, pode ser particularmente traumática e geradora de stress e ansiedade.