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Tosse convulsa: tudo o que deve saber

A tosse convulsa é uma doença infeciosa do trato respiratório e uma causa de mortalidade importante, sobretudo em crianças até um ano de idade.

Esta doença é causada por uma bactéria chamada Bordetella pertussis, que compromete, sobretudo, as zonas da traqueia e dos brônquios.

A tosse convulsa é contagiosa. Uma vez que as bactérias que a causam se encontram na boca, nariz e garganta da pessoa afetada, ela transmite-se através de gotículas de saliva expelidas pelo espirro ou pela tosse.

Os seres humanos são o único reservatório para a Bordetella pertussis e nem a infeção, nem a vacinação garantem uma imunidade permanente. No entanto, a vacinação sistemática permitiu reduzir drasticamente a incidência da doença.

Esta redução, associada à inexistência de imunidade permanente, levou a que a tosse convulsa voltasse a emergir, tornando-se numa das dez principais causas de mortalidade em crianças com idade inferior a um ano. É, ainda, a doença com possibilidade de ser prevenida mais predominante nos países desenvolvidos.


Características da tosse convulsa

Sintomas

Os sintomas da tosse convulsa surgem, normalmente, entre sete a 10 dias após a infeção, mas também podem aparecer até 21 dias mais tarde.

A doença caracteriza-se por três fases:

  • Fase catarral (1-2-semanas):
    Ocorre inflamação e corrimento nasal, tosse ligeira e febre baixa (sintomas do trato respiratório alto).
  • Fase paroxística (2-6 semanas):
    A tosse agrava-se e é caracterizada por acessos consecutivos seguidos de um ronco ou guincho. Estes episódios de tosse terminam, frequentemente, com a expulsão de um muco espesso e transparente, e muito frequentemente, seguido de vómito. Podem ser acompanhados de uma coloração azulada da pele e dos lábios e inchaço da língua.
    De início, os acessos de tosse ocorrem à noite e agravam-se com o choro ou a deglutição. Depois tornam-se mais frequentes durante o dia, podendo persistir ao longo de um a dois meses.
  • Fase de convalescença (2-6 semanas):
    A intensidade e frequência da tosse diminui progressivamente, desaparecendo o ruído ao inspirar e os vómitos. Pode prolongar-se ao longo de vários meses com episódios recorrentes de tosse, desencadeados por infeções respiratórias virais.

Nos lactentes (crianças do 28º dia aos dois anos de idade), o guincho típico ao inspirar pode nunca desenvolver-se e os ataques de tosse ser seguidos de breves períodos em que a respiração pára.

Após esta fase, os ataques de tosse diminuem de frequência e intensidade, e a criança melhora gradualmente. A recuperação total pode demorar até três meses.

Nas crianças vacinadas, adolescentes e jovens adultos os sintomas são mais ligeiros ou um pouco diferentes, podendo manifestar-se como tosse persistente.

As complicações derivadas da tosse convulsa ocorrem com mais frequência em crianças com menos de seis meses de idade, não vacinadas. As mais frequentes incluem:

  • Apneia (suspensão da respiração);
  • Pneumonia;
  • Perda de peso devido às dificuldades alimentares e aos vómitos.

Pode também ocorrer:

  • Pneumotorax (presença de ar entre as membranas dos pulmões);
  • Hemorragia nasal;
  • Hemorragia subconjuntival (derrame no olho);
  • Hematoma subdural (acumulação de sangue no espaço entre o cérebro e o osso do crânio);
  • Prolapso retal (saída parcial ou completa da parte terminal do reto para fora do ânus);
  • Convulsões;
  • Morte.

Prevenção

A forma mais importante de prevenção da tosse convulsa é a vacinação.

No Programa Nacional de Vacinação está contemplada a administração de cinco doses da vacina pertussis acelular aos dois, quatro, seis, 18 meses e cinco anos de idade.

Atualmente, a Direção-Geral da Saúde recomenda a vacinação durante a gravidez, com uma dose de vacina combinada contra a tosse convulsa, o tétano e a difteria, em doses reduzidas, entre as 20 e as 30 semanas de gestação, idealmente até às 32 semanas.

A vacinação da mulher grávida deve ocorrer após a ecografia morfológica (recomendada entre as 20 e as 22 semanas + seis dias).


Tratamento

O tratamento com um antibiótico é recomendado sempre que existe suspeita de tosse convulsa, após a colheita de secreções para a pesquisa da bactéria.

Este tratamento é especialmente eficaz para prevenir a doença na fase de incubação (inicial). Na fase catarral diminui ou elimina os sintomas e na fase paroxística não altera o estado clínico Ou seja, quanto mais cedo for iniciado o tratamento, maior a sua eficácia.

O chamado tratamento de suporte também constitui um pilar importante, consistindo em fluidoterapia, oxigénio humidificado e aspiração cuidadosa de secreções, quando necessário.

É importante reforçar que é recomendado o isolamento até 5 dias após início de tratamento antibiótico, ou até 21 dias na ausência desse tratamento.