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O que é a anosmia: reconheça este problema

O olfato é um dos cinco sentidos humanos e desempenha um papel muito importante na forma como experienciamos o mundo e interagimos com o ambiente.

Só quando alguém perde o olfato é que tem, verdadeiramente, a noção da sua importância.

Não é apenas a capacidade de apreciar o cheiro de um cozinhado apetitoso ou das flores na primavera que fica comprometida. O olfato é o sentido que também nos ajuda a ganhar apetite e serve como sistema de alerta para evitar perigos e toxinas.

A função olfativa não é, no entanto, um dado adquirido. A anosmia provoca a perda total de olfato e pode ser temporária ou permanente.

As implicações da anosmia

Consequências

A anosmia tem implicações ao nível da saúde e da qualidade de vida do doente, sendo, particularmente, preocupantes as questões relacionadas com a sua segurança e alimentação.

Um dos efeitos da anosmia pode mesmo ser a perda de apetite e a má nutrição, especialmente nos idosos.

Além disso, as pessoas com anosmia podem consumir acidentalmente alimentos azedos ou rançosos, simplesmente, porque não conseguem detetar os odores que sinalizam a deterioração dos mesmos.

Na verdade, a maioria das pessoas com anosmia consegue reconhecer substâncias salgadas, doces, ácidas e amargas, mas não é capaz de determinar a diferença entre sabores específicos.

Isto acontece porque a capacidade de diferenciar os sabores depende, exclusivamente, do olfato e não dos recetores gustativos da língua. Daí que as pessoas com anosmia se queixem, frequentemente, de não ter paladar e de não sentirem prazer em comer.

Por outro lado, a incapacidade de detetar odores especialmente perigosos – ar tóxico, poluído ou com muito fumo, por exemplo – pode também pôr em causa a segurança da pessoa.

É, ainda, possível a ocorrência de problemas psicológicos geradores de ansiedade e stress, que podem decorrer, por exemplo, da sensação de insegurança em relação ao odor corporal.


Causas

A perda parcial ou completa do olfato pode ocorrer quando as membranas mucosas do nariz estão irritadas ou obstruídas. Isso acontece, por exemplo, quando uma pessoa tem uma forte constipação ou uma infeção sinusal.

No entanto, se a incapacidade de olfato não estiver relacionada com uma constipação ou infeção sinusal, ou se não regressar depois do congestionamento do nariz desaparecer, isso pode ser sintoma de outro problema. Nessa altura, a pessoa deve consultar o médico.

No caso dos idosos, essa relação entre a perda de olfato e outro problema de saúde associado, é especialmente preocupante, pois torna-se mais frequente.

Em alguns casos raros, a ausência do sentido olfativo pode ser um problema de nascença, a que se dá o nome de anosmia congénita.

Isto ocorre quando há um distúrbio genético hereditário ou um desenvolvimento anormal do sistema olfativo (o sistema sensorial do corpo para o olfato) que ocorre antes do nascimento. Infelizmente, não há cura para a anosmia congénita.

As causas da perda de olfato podem, assim, ser divididas em dois tipos:

Condutivas

Causas geralmente acompanhadas por outros sintomas, como nariz tapado e secreção nasal anterior, derivadas da existência de barreiras físicas aos odores que atingem o sistema olfativo. Alguns exemplos:

  • Rinite alérgica;
  • Rinossinusite (com ou sem pólipos nasais);
  • Consumo de cocaína;
  • Desvio do septo nasal;
  • Doenças sistémicas com manifestações nasais;
  • Iatrogenia (cirurgia nasal, laringectomia, uso de medicação).

Neurossensoriais

Que se devem a uma falha do sistema olfativo na deteção de odores. Alguns exemplos:

  • Distúrbios neurodegenerativos pós-virais;
  • Doença de Parkinson;
  • Doença de Alzheimer;
  • Transtornos psiquiátricos (depressão, perturbação bipolar, esquizofrenia);
  • Traumatismo craniano;
  • Tumores do espaço central;
  • Metais pesados e solventes (cádmio, ferro, zinco, amónia);
  • Congénita (síndrome de Kallman);

Há ainda um conjunto de outras situações que podem estar na origem da anosmia. Eis alguns deles:

  • Hepatite;
  • Insuficiência hepática ou renal;
  • Deficiência de vitamina B12;
  • Bronquite asmática;
  • Esclerose Múltipla;

Anosmia e COVID-19

As chamadas infeções respiratórias superiores são uma das principais causas de perda (anosmia) ou diminuição (hiposmia) do olfato. Frequentemente, a anosmia é associada à falta de paladar (disgeusia).

Os vírus responsáveis por esta perda de olfato na sequência de uma infeção são inúmeros. Entre eles estão incluídos os da família do coronavírus.

Desde maio de 2020, após inúmeras evidências científicas, a anosmia é mundialmente reconhecida como um sintoma da Covid-19.

Aparentemente, a perda do olfato é grave e repentina no início, mas transitória na maioria dos doentes (ou seja, recuperam após alguns dias). Daí que seja recomendável a realização do teste à Covid-19 em pessoas que tenham uma perda repentina de olfato, sem uma causa evidente (por exemplo, obstrução da massa nasal ou rinite alérgica grave).

Em muitos casos, a anosmia e a perda de paladar são mesmo os únicos sintomas da infeção por Covid-19, podendo ser também a manifestação inicial da doença.

Habitualmente, o quadro clínico de doentes com anosmia por Covid-19 é ligeiro. Nestes doentes, a perda de olfato e de paladar costuma desaparecer num período entre sete e 14 dias.


Diagnóstico

O diagnóstico de anosmia é feito pelo médico depois de uma averiguação do histórico clínico e de sintomas do paciente, bem como da realização de um exame físico.

O médico vai tentar esclarecer questões como:

  • De que forma surgiu a perda de olfato (por exemplo, se foi repentina);
  • Há quanto tempo dura;
  • Se tem alguma relação com um resfriado ou gripe;
  • Se ocorreu traumatismo craniano ou cirurgia;
  • A existência de sintomas associados (por exemplo, nariz entupido ou coriza aquosa, com sangue, espessa ou com mau cheiro);
  • Eventuais sintomas neurológicos (por exemplo, alterações de memória, visão dupla, dificuldade para falar ou engolir);
  • Consumo de medicamentos;
  • Exposição da pessoa a produtos químicos ou gases;
  • Existência de distúrbios dos seios paranasais;
  • Alergias;

Para testar o olfato, o médico habitualmente utiliza substâncias fragrantes comuns, solicitando à pessoa que identifique os odores que lhe são apresentados.

Quando existe suspeita de Covid-19 é feito um teste viral e o paciente é tratado de acordo com os protocolos e diretrizes existentes.

Caso não exista uma causa clara para a anosmia, pode ser realizado um TAC ou uma ressonância magnética da cabeça, nomeadamente, dos seios paranasais, para localizar eventuais anomalias estruturais como um tumor, abcesso ou fratura.

Nalguns casos pode também haver recurso ao raio X ou a uma endoscopia nasal para observação do interior do nariz.


Tratamento

Se a perda de olfato se deve a um resfriado, alergia ou infeção sinusial, normalmente ela desaparece após alguns dias. Caso a anosmia permaneça depois dos sintomas da constipação ou alergia terem desaparecido, a pessoa deve consultar um médico.

Os tratamentos da anosmia visam a causa, pelo que é esta que determina o tipo de tratamento a adotar.

Os que podem ajudar a resolver a anosmia causada pela irritação nasal incluem:

  • Descongestionantes nasais;
  • Anti-histamínicos;
  • Sprays nasais de corticóides;
  • Antibióticos (para infeções bacterianas);
  • Redução da exposição a irritantes e alergénicos nasais;
  • Deixar de fumar.

A perda de olfato provocada por obstrução nasal pode ser tratada com a remoção do que quer que esteja a obstruir o nariz. Por exemplo, a remoção dos pólipos nasais, a correção do septo nasal, ou a limpeza dos seios nasais.

No caso da anosmia congénita (de nascença) não existe qualquer tipo de tratamento.


Prevenção

Evitar o contacto com certos produtos químicos e determinadas drogas, bem como deixar de fumar são atitudes que podem ajudar a evitar a anosmia. Mas há outras medidas preventivas. Eis algumas delas:

  • Evitar o uso exagerado de descongestionantes nasais, pois pode provocar um congestionamento nasal mais frequente;
  • Evitar a permanência em ambientes poluídos;
  • Evitar o contacto com pesticidas, metais pesados, etc;
  • Se for fumador, deixar de fumar.

Além disso, uma vez que a anosmia pode ser um resultado de uma lesão cerebral, também é um fator de prevenção o cuidado especial na prática de desportos perigosos, na condução, ou noutras atividades de risco semelhantes.

Se a pessoa tiver anosmia, o ambiente pode tornar-se mais seguro adotando medidas preventivas, tais como:

  • Utilização de alarmes de fumo e verificação regular do seu correto funcionamento;
  • Verificar se fogões, churrasqueiras e aparelhos elétricos estão devidamente desligados;
  • Ler com especial cuidado os prazos de validade dos alimentos.