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Covid 19: O que se sabe sobre a variante Delta

Na última semana de Junho, a variante Delta era a variante mais prevalente em Portugal, com uma frequência relativa de 89,1%, ou seja, esta variante foi a responsável por cerca de 90% das infeções registadas no nosso país, de acordo com o relatório de diversidade genética do novo coronavírus SARS-CoV-2 (Covid-19) em Portugal, divulgado no passado dia seis de Julho pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA). Este valor inclui também a variante Delta plus, que representa 0,9% dos casos registados naquele período.

Como se esperava, a frequência desta variante, originalmente detetada na Índia, aumentou em todas as regiões durante o mês de Junho, com destaque para a região norte, com um aumento de 17,7% no início do mês para 71,1% no final. Na Madeira, este valor passou de 12,5% para 85,7%, e, nos Açores, de 0% para 64,7%.


Variante Delta: em que consiste

Detetada pela primeira vez na índia, no final do ano passado, a variante Delta da Covid-19 alastrou-se rapidamente e, em seis meses, foi detetada em mais de 90 países. Trata-se de uma variante da doença com uma transmissibilidade 43 a 90% superior às variantes que lhe antecederam, sendo 30 a 100% mais infeciosa do que a variante Alpha.

Pesquisas sugerem que esta variante, oficialmente designada por B.1.617.2, é a mais contagiosa de todas as variantes conhecidas até ao momento, incluindo a variante alfa, altamente transmissível, e que foi dominante em Portugal durante o mês de maio.

Os investigadores suportam que esta maior capacidade de propagação poderá dever-se a alterações nas proteínas do vírus SARS-CoV-2, nomeadamente, na proteína spike, e que facilitam a sua entrada nas células.

Outra hipótese levantada para o aumento da transmissibilidade é a de que esta variante do vírus apresenta uma mutação que lhe permite infetar as células humanas sem ser descoberta imediatamente pelo sistema imunitário.

A variante Delta está associada a formas mais graves da doença com maior risco de internamento. Um estudo publicado a 14 de junho, na revista The Lancet, analisou o impacto da variante Delta na Escócia. Os autores mostraram que o risco de internamento por Covid-19 praticamente duplicou nos doentes infetados com a variante Delta, comparativamente com pessoas infetadas com a variante britânica, ou Alpha.

Como é feita a monitorização da doença

Desde Janeiro de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) faz uma monitorização apertada da evolução da Covid-19. Em maio deste ano, no âmbito deste processo, a variante Delta foi declarada uma "variante de preocupação”.

Esta designação é usada quando há evidências aumentadas de que uma variante é mais transmissível, causa doenças mais graves ou reduz a eficácia das vacinas ou de outros tratamentos.


Ainda mais grave: a variante Delta Plus

A variante Delta Plus, ou, em português, Delta Mais, não é uma nova variante, mas sim uma mutação da Delta, ou seja, uma mutação da variante indiana, também conhecida em Portugal como a mutação nepalesa.

Além da Índia e de Portugal, também já circula nos Estados Unidos, China, Japão, Nepal, Rússia, Reino Unido, Suíça e Polónia. De acordo com um relatório da Public Health England, publicado a 18 de Junho, Portugal era o terceiro país com mais casos comunicados da Delta Plus, depois dos EUA (83) e do Reino Unido (36).

“A variante Delta tem um conjunto de mutações que a caraterizam como um todo” e dentro dela há três linhagens importantes, sendo a segunda a mais perigosa em termos de transmissão e a que está a dominar em Portugal. “Dentro da variante ponto dois da Delta existe uma ‘sublinhagem’ que tem uma mutação muito particular que está ligada ao Nepal”, como explicou ao jornal Expresso, o especialista em Saúde Internacional Tiago Correia.


Os sintomas podem ser diferentes

Além dos sintomas mais comuns associados à infeção por Covid-19, como a tosse, febre e dificuldade respiratória, no caso da variante Delta, há outros sintomas a ter em conta, nomeadamente, a dor de cabeça, dor de garganta, corrimento nasal e febre, sendo que a tosse e a perda de olfato são sintomas menos comuns nesta variante da infeção.

O facto deste quadro de sintomas poder confundir-se mais facilmente com uma constipação leva as autoridades de saúde a preocuparem-se, já que poderá haver uma maior desvalorização dos sintomas.

De resto, e após a instalação da doença, as pessoas infetadas podem ter maior probabilidade de ser hospitalizadas, registando um quadro mais grave do que os doentes infetados inicialmente.


A importância da vacinação

Ter o esquema de vacinação completo é ainda mais importante na variante Delta. Testar, vacinar e respeitar as medidas de saúde pública, como o uso da máscara e o distanciamento social, torna-se ainda mais importante nesta fase de disseminação da doença.

Pesquisas indicam que as pessoas totalmente vacinadas estão bem protegidas, mas aqueles que fizeram somente a primeira dose estão ainda suscetíveis.

De acordo com a Public Health England, do Reino Unido, a vacina Pfizer-BioNTech é 96% eficaz contra a hospitalização após duas doses e a vacina Oxford-Astra Zeneca é 92% eficaz contra a hospitalização após duas doses.

Ao jornal Expresso, Manuel Carmo Gomes, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, lembra que “sabemos que a proteção que uma dose da vacina dá contra a Delta é inferior à que uma dose da vacina dá contra a variante britânica”, agora conhecida por Alfa.

Por outras palavras, é importante conseguir rapidamente que as pessoas tenham o esquema vacinal completo, pois aí “a proteção é muito mais alta”, esclarece.