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Variantes da Covid-19: quais existem e as suas especificidades

O mundo tem sido confrontado com notícias frequentes acerca do aparecimento de novas variantes da Covid-19, suscitando dúvidas e receios em torno da sua gravidade e da forma como estas podem afetar os tratamentos, as vacinas e os testes atuais.

Para melhor compreendermos o que se está a passar, convém primeiro saber como surgem as variantes de um vírus.

Os vírus são organismos acelulares, que carregam uma pequena quantidade de ácido nucleico (seja DNA ou RNA, ou os dois). A maioria dos cientistas não os considera seres vivos, pois não possuem qualquer célula. A sua multiplicação só é, por isso, possível quando penetram no interior de células, razão pela qual são considerados parasitas intracelulares obrigatórios.

Quanto mais frequente é a transmissão de um vírus entre pessoas, maior é a probabilidade de ocorrerem mutações no respetivo material genético devido à necessidade de se adaptar às condições que o rodeia.

Estas alterações não significam, necessariamente, que o vírus se torna mais forte ou mais transmissível. Daí que, na maioria dos casos, não alteram de forma significativa a gravidade da doença em causa, nem as respostas imunitárias do organismo do paciente.

Ao contrário da maioria dos vírus, que só afetam um tipo de célula, o SARS-CoV-2 (vírus responsável pela Covid-19) é considerado um vírus sistémico. Isto acontece porque, embora comece por afetar o trato respiratório superior, provocando sintomas de infeção respiratória, pode também causar danos no sistema cardiovascular, em tecidos intestinais e urogenitais, nas células do sistema nervoso central e em células endoteliais de vasos sanguíneos menores.

Quando várias variantes têm origem num mesmo vírus ancestral, elas passam a constituir uma linhagem, ou seja, um grupo de vírus variantes que se diferenciam e têm um ancestral comum.


As variantes da Covid-19

Classificação

Por vezes, as novas variantes de um vírus surgem e desaparecem. Noutras ocasiões, acabam por persistir.

No caso do SARS-CoV-2 (o novo coronavírus), desde o surgimento do vírus em Wuhan, na China, foram já identificadas em todo o mundo mais de quatro mil mutações e acima de 1000 variantes.

A sua gravidade é, no entanto, muito distinta. Daí que as variantes possam ser classificadas segundo três tipos:

  • Variantes de Interesse (VOI, na sigla em inglês);
  • Variantes de Preocupação (VOP);
  • Variantes de Elevada Consequência (VOHC).

Variantes de Interesse (VOI)

Estas variantes da Covid-19 têm como caraterística comum o facto de apresentarem marcadores genéticos que provavelmente afetam a transmissão do vírus, o tratamento ou a resposta imunitária.

Além disso, demonstram ser a causa de um aumento da proporção de casos ou de zonas geográficas onde se verificam surtos únicos.

As VOI têm, no entanto, uma prevalência ou expansão limitada. No grupo de Variantes de Interesse estão incluídas as seguintes:

Nome da Variante Local da primeira deteção Atributos conhecidos
B.1.526 Estados Unidos (Nova Iorque)
  • Potencial redução da eficácia dos tratamentos com anticorpos monoclonais;
  • Pouca eficácia na neutralização com plasma recolhido de pacientes recuperados e após vacinação.
B.1.525 Estados Unidos (Nova Iorque)
  • Potencial redução da eficácia dos tratamentos com anticorpos monoclonais;
  • Pouca eficácia na neutralização com plasma recolhido de pacientes recuperados e após vacinação.
P.2 Brasil
  • Potencial redução da eficácia dos tratamentos com anticorpos monoclonais;
  • Pouca eficácia na neutralização com plasma recolhido de pacientes recuperados e após vacinação.

Variantes de Preocupação (VOP)

As Variantes de Preocupação são:

  • Mais resistentes a um ou mais tipos de tratamento;
  • Reduzem a neutralização do vírus por anticorpos produzidos durante a infeção ou após a vacinação;
  • Reduzem a proteção contra doenças graves induzida pelas vacinas.
  • Têm maior transmissibilidade;
  • Provocam um aumento da gravidade da doença.

No grupo de Variantes de Preocupação estão incluídas as seguintes:

Nome da Variante Local da primeira deteção Atributos conhecidos
B.1.1.7 Inglaterra
  • Maior transmissibilidade (+50%);
  • Provável aumento da gravidade, tendo em conta o número de hospitalizações e casos mortais (Em janeiro de 2021, especialistas britânicos disseram mesmo que esta variante poderia ser a mais letal, mas são necessários mais estudos a respeito);
  • Pouca eficácia do tratamento com anticorpos monoclonais de pacientes recuperados;
  • Pouca eficácia na neutralização com plasma recolhido de pacientes recuperados e após vacinação.
P.1 Brasil/Japão
  • Pouca eficácia do tratamento com anticorpos monoclonais de pacientes recuperados;
  • Pouca eficácia na neutralização com plasma recolhido de pacientes recuperados e após vacinação (Por enquanto, nenhum estudo concluiu que a P1 seja mais letal).
B.1.351 África do Sul
  • Maior transmissibilidade (+50%);
  • Pouca eficácia do tratamento com anticorpos monoclonais de pacientes recuperados;
  • Pouca eficácia na neutralização com plasma recolhido de pacientes recuperados e após vacinação.
B.1.427 Estados Unidos (Califórnia)
  • Maior transmissibilidade (+20%);
  • Melhor reação à maioria dos tratamentos;
  • Pouca eficácia na neutralização com plasma recolhido de pacientes recuperados e após vacinação.
B.1.429 Estados Unidos (Califórnia)
  • Maior transmissibilidade (+20%);
  • Melhor reação à maioria dos tratamentos;
  • Pouca eficácia na neutralização com plasma recolhido de pacientes recuperados e após vacinação.

Variantes de Elevada Consequência (VOHC)

Atualmente não existe nenhuma variante da Covid-19 que possa ser classificada como de Elevada Consequência.

Para que uma variante reúna as condições para esta classificação, devem existir, obrigatoriamente, provas claras de que as medidas de prevenção ou as contramedidas médicas têm sobre elas uma eficácia significativamente reduzida, em comparação com as restantes variantes existentes.


Variantes em Portugal

De acordo com o relatório de situação do Instituto Ricardo Jorge divulgado no dia 2 de abril de 2021, a variante mais frequente em Portugal é a B.1.1.7, que foi inicialmente detetada em Inglaterra.

Esta variante representa cerca de 83 por cento dos casos de Covid-19 no nosso país e está associada, essencialmente, a uma maior transmissibilidade do vírus.

Segundo o mesmo estudo, verificou-se também um grande crescimento em Portugal da presença da variante B.1.351, identificada pela primeira vez na África do Sul. Mesmo assim, ela não é ainda muito frequente na população.

Segue-se um quadro com as principais variantes e linhagens detetadas em Portugal.

Variante Detetada primeiro Frequência Característica principal
B.1.1.7 Inglaterra 82.9% Maior capacidade de transmissão e elevada transmissibilidade entre pessoas mais jovens.
B.1.177 Espanha 8.3% Elevada disseminação a nível global.
B.1.160 Irlanda do Norte 2.5% ----
B.1.351 África do Sul 2.5% Maior capacidade de transmissão, atinge pessoas mais jovens e tem maior resistência a anticorpos neutralizantes.
C.16 Portugal 0.8% Pode mediar a resistência a anticorpos neutralizantes.
A.21 ---- 0.5% Pode mediar a resistência a anticorpos neutralizantes.
P.1 Brasil 0.4% Maior capacidade de transmissão e/ou invasão do sistema imunitário.

Cuidados a ter

Os cuidados a ter perante o aparecimento de novas variantes do novo coronavírus não diferem daqueles que já eram aconselhados anteriormente.

Mesmo assim, nunca é demais recordar:

  • Uso adequado de máscara (aprovada pelas entidades competentes);
  • Trocar de máscara com frequência;
  • Distanciamento social;
  • Etiqueta respiratória;
  • Desinfeção frequente das mãos;
  • Evitar o contacto das mãos com a boca, o nariz e os olhos;
  • Vacinação.

Proteja a sua saúde e a de todos!