Doença de Parkinson: o que é?
A doença de Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa mais comum em todo o mundo, a seguir ao Alzheimer.
Ela ocorre quando as células (neurónios) que produzem dopamina, localizadas particularmente numa pequena região encefálica chamada substância nigra, uma substância química que coordena os músculos e o movimento neurotransmissor voluntário do corpo, deixam de funcionar ou morrem.
É considerada uma perturbação do movimento, pois o quadro clínico é caracterizado por tremores; lentidão e diminuição dos movimentos voluntários (acinesia ou bradicinesia); rigidez (enrijecimento dos músculos, principalmente no nível das articulações); instabilidade postural.
No entanto, outros sintomas que não estão relacionados com o movimento também podem estar presentes: obstipação, depressão, problemas de memória.
Contrariamente ao que se possa pensar, a doença de Parkinson não é uma demência. No entanto, por motivos que ainda não são conhecidos, a demência acaba por atingir cerca de um terço destes doentes. Isto acontece, sobretudo, num momento mais avançado da doença ou quando ela se desenvolve numa fase tardia da vida.
Embora viver com esta doença possa ser um desafio complicado, atualmente existem muitas formas destes pacientes conseguirem manter ou até melhorar a sua qualidade de vida.
Trata-se, contudo, de uma doença crónica sem cura, progressiva e vitalícia, o que significa que os seus sintomas se agravam lentamente ao longo do tempo.
Viver com a doença de Parkinson
Sintomas
Embora a doença de Parkinson esteja classificada como uma perturbação do movimento e os sintomas motores sejam os mais conhecidos, há muitos sintomas não motores que ocorrem nestes pacientes.
Os sintomas motores da doença são os seguintes:
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Tremores
O mais característico é ocorrerem em repouso, de forma lenta e rítmica. Começam, tipicamente, numa mão, pé ou perna e acabam por afetar ambos os lados do corpo. O tremor em repouso também pode ocorrer no maxilar, queixo, boca ou língua. Alguns doentes experimentam, também, tremores internos, que não são percetíveis para as outras pessoas. -
Rigidez
Um aperto ou rigidez muscular dos membros ou do tronco. -
Bradicinesia
Além de uma lentidão geral dos movimentos, a bradicinesia da doença de Parkinson é tipicamente demonstrada pela ausência de expressividade do rosto, uma diminuição do piscar dos olhos e problemas de coordenação motora fina (por exemplo, dificuldade em abotoar uma camisa). Ter dificuldades em virar na cama e uma caligrafia pequena e lenta são outros sinais de bradicinesia. -
Instabilidade postural (desequilíbrio fácil)
Acontece sobretudo nas fases mais avançadas da doença. Inclui a incapacidade de manter uma postura firme e ereta ou de evitar uma queda. -
Problemas de marcha
A bradicinesia e a instabilidade postural contribuem para a ocorrência de dificuldade em andar, ou para uma forma de caminhar típica de Parkinson. É frequente uma diminuição do balanço natural de um ou ambos os braços ao andar. Mais tarde, os passos podem tornar-se lentos e pequenos. Pode, também, incluir uma tendência para avançar com passos rápidos e curtos. Além disso, pessoas com Parkinson avançada podem experimentar episódios de congelamento (acinesia), em que os pés parecem ficar colados ao chão. -
Distonia
Movimentos musculares involuntários e repetitivos que fazem com que uma parte do corpo se torça ou assuma uma determinada postura. Podem ser afetados os olhos, pescoço, tronco e membros. A distonia pode ser dolorosa e interferir com o movimento desejado pela pessoa. -
Sintomas vocais
Além dos sintomas motores, as mudanças na voz são, também, frequentes. A voz pode tornar-se mais suave, ou começar forte e depois desvanecer-se. Pode, ainda, haver uma perda da variação normal do volume e da emoção na voz, o que torna a fala do indivíduo monocórdica. Na Parkinson mais avançada, a fala pode tornar-se rápida, ou ocorrer gaguez.
Os sintomas não motores (não associados ao movimento) podem ser inúmeros. Eis alguns exemplos:
- Perturbações do olfato;
- Problemas de sono;
- Depressão e ansiedade;
- Dor;
- Psicose;
- Mudanças cognitivas (são frequentes as dificuldades de pensamento, de descoberta de palavras e de julgamento);
- Perda de peso;
- Problemas gastrointestinais;
- Tonturas;
- Problemas urinários;
- Redução do desejo sexual;
- Suor excessivo;
- Melanoma (as pessoas com Parkinson podem ter maior risco de desenvolvimento deste tipo de cancro);
- Alterações de personalidade;
- Problemas nos olhos e de visão.
Causas
As causas da doença não são, ainda, claras. É, no entanto, consensual que possa ser resultante de fatores genéticos (apesar de habitualmente não ser considerada uma doença hereditária), bem como de fatores tóxicos ambientais como a exposição tóxica a herbicidas e pesticidas.
Os principais fatores risco são o envelhecimento, a hereditariedade (sendo raro, quando, ocasionalmente, numa mesma família, em geral, correspondem a casos com início precoce) e o ser do género masculino, pois a doença afeta, sobretudo, indivíduos do sexo masculino.
Tratamento
A doença de Parkinson não tem cura, mas existem vários tratamentos possíveis que permitem aliviar os seus sintomas e melhorar a autonomia e qualidade de vida do doente.
O tratamento deve ser individualizado e pode envolver a necessidade de uma equipa multidisciplinar.
Habitualmente, o tratamento baseia-se em:
- Fármacos (na maioria dos casos, uma combinação de medicamentos);
- Fisioterapia;
- Terapia ocupacional;
- Terapia da fala.
Alguns doentes podem, ainda, beneficiar de uma terapia cirúrgica chamada Estimulação Cerebral Profunda (DBS), que envolve a implantação de um elétrodo numa área específica do cérebro, afetada pela doença, consistindo em microestimulação elétrica contínua desta região.
Trata-se de uma terapêutica eficaz e segura para pacientes cuidadosamente selecionados, que não tenham quaisquer contraindicações para esta cirurgia.
Os elétrodos implantados no cérebro são estimulados através da ligação a um dispositivo neuroestimulador, também chamado de “pacemaker”, inserido abaixo da pele, no peito, ou na região abdominal.
Independentemente do tratamento adotado, os especialistas realçam a grande importância do reforço da capacidade física dos doentes com Parkinson, através do treino de marcha, equilíbrio e reforço muscular.
Os doentes com Parkinson devem, ainda, ter cuidados especiais com a alimentação. É importante uma dieta rica, que aumente a energia, maximize a ação dos medicamentos e promova o bem-estar geral do paciente.
Adaptações no dia a dia
A doença de Parkinson provoca grandes transformações na vida das pessoas, que necessitam de se adaptar à nova realidade e às limitações, sobretudo físicas, com que se vai deparando.
Um dos aspetos mais importantes diz respeito à necessidade de adaptar o espaço da casa onde o doente reside, por forma a circular mais à vontade e sem perigo. Eis algumas sugestões:
- Portas com largura suficiente para o doente circular, se necessário em cadeira de rodas;
- Eliminar o piso escorregadio, encerado ou irregular;
- Retirar o mobiliário em excesso e dispor o restante de modo a que o doente não esbarre em mesas e cadeiras ou tropece em fios soltos no chão;
- Retirar os tapetes soltos, mesmo que tenham antiderrapante;
- Utilizar cadeiras altas e com apoio para os braços, nomeadamente no quarto para o doente se vestir e calçar;
- Garantir a boa iluminação dos espaços;
- As escadas devem ter corrimão e os degraus não podem ser altos;
- Na cozinha, os utensílios devem ser inquebráveis e as superfícies o mais antiderrapante possível;
- Substituir a banheira por um poliban grande, sem degrau e com uma porta suficientemente larga para a entrada de uma cadeira de rodas;
- Instalar barras fixas para apoio do doente na banheira ou no poliban;
- A sanita deve ser alta, ou ter adaptador e barras de apoio lateral;
- O doente deve utilizar máquina de barbear elétrica e abandonar o uso de lâminas;
- De preferência, o doente deve passar a usar calças com elástico na cintura e camisas sem botões;
- Os sapatos devem ser confortáveis e com sola antiderrapante.