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Infeção por listeriose: o que deve saber

A bactéria Gram-positiva Listeria monocytogenes é uma bactéria patogénica responsável por vários casos isolados e por surtos de listeriose, quer em humanos, quer em animais.

Em 1927, foi identificada como agente patogénico para animais, mas, só a partir dos anos 80, e na sequência de vários surtos graves atribuídos ao consumo de alimentos contaminados com Listeria, esta bactéria passou a ser considerada uma ameaça para a saúde pública, quer pela comunidade científica, quer pela indústria alimentar e pelos consumidores.

Apesar de pouco frequente, a infeção pode ser grave, especialmente em imunodeprimidos, nomeadamente em pessoas com HIV, e em idosos e recém-nascidos, podendo atingir uma taxa de letalidade de 30%.

As grávidas têm cerca de dez a vinte vezes mais hipóteses de contrair listeriose do que o resto das pessoas, mas raramente ficam gravemente doentes ou morrem. No entanto, em casos raros, gestantes com listeriose transmitem a infeção para o feto ou recém-nascido que, por sua vez, pode morrer.


Como se transmite a listeriose

A listeriose é, essencialmente, transmitida através do consumo de alimentos contaminados, da contaminação do recém-nascido durante o parto, de infeção cruzada em ambiente hospitalar e do contacto com animais.

A listeriose é geralmente adquirida ao serem consumidos alimentos contaminados. Quando a contaminação ocorre através do consumo de alimentos, a bactéria pode entrar na corrente sanguínea e disseminar-se para outros órgãos.

Mais raramente, a Listeria monocytogenes infeta a pele de veterinários e de outras pessoas que estão em contato com animais infetados (principalmente durante o abate e manuseio das carcaças).

As bactérias crescem mesmo em alimentos que estão no frigorífico e sobrevivem no congelador. Já a pasteurização de laticínios destrói estas bactérias.

Ao cozinhar-se ou reaquecer-se os alimentos consegue-se matar as bactérias, mas estas podem manter-se em áreas inacessíveis de instalações/espaços de preparação de alimentos e contaminá-los de novo.

Se estes alimentos forem consumidos sem serem cozinhados, as bactérias que permanecem são consumidas com os alimentos, já que, no caso de contaminação por listeria, não se dá alteração do aroma ou do sabor dos alimentos.

Assim, e sistematizando, a infeção por listeriose pode acontecer através de:

  • Contacto com animais (em reservatórios);
  • Consumo de alimentos e de produtos alimentares que estejam contaminados, quer sejam de origem animal ou vegetal, processados ou não;
  • Da mãe para o feto (transmissão vertical) ou durante a passagem pelo canal de parto.

É mais frequente a infeção surgir devido ao consumo de alimentos contaminados. Como por exemplo:

  • Carne crua de vaca, porco ou aves;
  • Crustáceos, mariscos ou moluscos;
  • Leite e derivados não pasteurizados;
  • Frutas e vegetais crus ou mal lavados.

A contaminação pode ainda acontecer através de alimentos processados, nomeadamente produtos de charcutaria e congelados.


Alimentos mais frequentemente associados a infeções por listeria

De acordo com a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), “nos últimos vinte anos foram descritos vários surtos de listeriose associados ao consumo de diversos alimentos como saladas, patés, queijos, leite pasteurizado, camarões e manteiga.”

No entanto, os produtos que representam um maior risco, adverte aquele organismo, “são aqueles cujo processo de fabrico não inclui qualquer etapa de redução/eliminação de Listeria monocytogenes e cujas matérias-primas apresentam elevada incidência/concentrações da bactéria.

Fatores de risco adicionais são a sua capacidade de crescimento da bactéria no produto e a ausência de processamento do mesmo antes de consumido.”

Entre os produtos que constituem um maior risco, encontram-se o leite cru, os lacticínios produzidos com leite cru, peixe fumado e alguns enchidos.


Sintomas

A grande maioria dos adultos saudáveis não desenvolve a doença após a infeção.

Tal como acontece com outras doenças transmitidas por alimentos, a listeriose, habitualmente, manifesta-se por uma gastroenterite, com febre, diarreia e náuseas.

A doença tem um período de incubação médio de três semanas, podendo variar entre três e 70 dias a manifestar-se.

Na grávida, a maioria das infeções é assintomática ou assemelha-se a um síndrome gripal. No entanto, a mulher pode sofrer um aborto, ter um parto pré-termo, doença grave no recém-nascido ou, mesmo, ser um nado-morto.

No recém-nascido estão descritas duas formas de doença:

  • De início precoce, que se manifesta, desde logo, pela prematuridade, sépsis ou pneumonia. Nos casos mais graves pode surgir exantema papular;
  • De início tardio, depois da primeira semana de vida, manifestando-se, habitualmente, por meningite.

Nos doentes imunodeprimidos e em idosos, ocorrem, por vezes, infeções graves como sépsis, encefalite ou meningite, podendo atingir uma taxa de letalidade de 30%.


Diagnóstico e tratamento

Após a avaliação clínica, o médico irá solicitar análises para confirmar a existência da bactéria e a sua deteção pode ser feita através de amostras de sangue, placenta, líquido cefalorraquidiano ou outras, colhidas de acordo com o quadro clínico do paciente.

A caraterização genética da bactéria (definição do serótipo) pode ser útil para a identificação da fonte de eventuais surtos.

A nível de tratamento, recorre-se a antibioterapia (penicilina ou ampicilina, entre muitas outras opções), tratamento sintomático de acordo com a manifestação da doença e na prevenção da desidratação com reforço hídrico, em caso de vómitos ou diarreia.

Na grávida, o tratamento feito atempadamente pode prevenir a infeção no feto ou no recém-nascido.


Prevenção

A listeriose pode ser prevenida através da adoção de medidas de segurança alimentar, no contexto da indústria agroalimentar e de estabelecimentos de restauração e bebidas. É essencial, aqui, o cumprimento dos princípios do sistema HACCP (Hazard Analysis and Critical Control Point).

A nível individual, a prevenção passa pelo processamento e manuseamento de produtos alimentares com os seguintes cuidados:

  • Evitar ingerir alimentos crus de origem animal;
  • Lavar bem a fruta e vegetais crus;
  • Cozinhar bem os alimentos;
  • Consumir os alimentos logo após serem confeccionados ou o mais brevemente possível;
  • Evitar o contacto entre alimentos crus e cozinhados;
  • Manter a temperatura de refrigeração a ≤4ºC;
  • Proteger os alimentos do contacto com animais;
  • Reforçar a higiene das mãos após a manipulação de alimentos crus;
  • Manter as superfícies, equipamentos e utensílios que contactem com os alimentos devidamente higienizados.