Análises clínicas: como ler os resultados
A realização de análises clínicas fornece informações importantes acerca da nossa saúde ou doença, que ajudam o médico a elaborar o diagnóstico e, quando necessário, a tomar a melhor opção de tratamento.
São, igualmente, fundamentais ao nível do prognóstico, da vigilância, da monitorização e da prevenção.
Há um conjunto de valores de referência que nos ajudam a ter uma ideia sobre os resultados das análises. No entanto, existem inúmeros fatores que podem interferir com a interpretação dos valores finais, pelo que apenas o médico está capacitado para tirar conclusões.
Eis alguns exemplos que são tidos em conta na interpretação final dos resultados:
- Idade
- Sexo
- Situação clínica
- Medicação
- História clínica e familiar
- Gravidez
- Hábitos tabágicos
- Perfil "normal" da pessoa
As análises podem, ainda, ser divididas em seis grupos principais:
- Hemograma
- Bioquímica
- Coagulograma
- Imunologia
- Análise da urina
- Análise das fezes
Análises clínicas mais frequentes
Hemograma
O hemograma avalia todos os componentes celulares presentes no sangue. Ou seja:
Eritrócitos
Avalia o número de glóbulos vermelhos, que são as células sanguíneas que carregam a hemoglobina, uma proteína que garante o transporte de oxigénio. Quando a quantidade é demasiadamente baixa, podemos estar perante uma anemia, provocando fadiga e fraqueza.
Se os valores forem muito elevados, o sangue pode tornar-se excessivamente espesso, podendo causar alguns sintomas, como dor de cabeça, tonturas, ou até mesmo aumentar o risco cardiovascular.
Valores de referência:
4,2 a 5,9 x 1012 células/L (geralmente varia entre o sexo feminino e masculino)
Hemoglobina
Proteína que confere a cor vermelha ao sangue e está localizada no interior dos eritrócitos. É responsável pelo transporte do oxigénio. Permite, por exemplo, avaliar a presença de anemia.
Valores de referência para mulheres: 12 a 16 g/dL
Valores de referência para homens: 15 a 17 g/dL
Leucócitos (glóbulos brancos)
Conjunto de células de defesa do nosso organismo. São responsáveis pelo combate às infeções e integram o sistema imunitário. Existem cinco tipos principais:
- Neutrófilos (anulam as bactérias e os fungos);
- Linfócitos (ajudam na defesa contra infeções virais, na deteção e destruição de algumas células cancerosas e produzem anticorpos);
- Monócitos (ingerem células mortas e defendem o corpo contra organismos infeciosos);
- Eosinófilos (matam parasitas, destroem células cancerosas e estão envolvidos nas reações alérgicas);
- Basófilos (também participam nas reações alérgicas).
Valores de referência: 3,9 a 10,7 células/L
Plaquetas (trombócitos)
As plaquetas são partículas semelhantes a células, mais pequenas do que os glóbulos vermelhos ou brancos. Intervêm no processo de coagulação, combatendo as hemorragias.
Quando a quantidade é demasiado baixa, há maior risco de hematomas e hemorragias anormais. Se estiver demasiadamente elevada (Trombocitopenia), o sangue pode coagular, constituindo também um fator de risco para complicações vasculares, e ocorrer um ataque isquémico transitório (trombocitose).
Valores de referência: 150 a 350 x 109 células/L
Bioquímica
Os principais exames bioquímicos são os seguintes:
Ácido Úrico
O aumento da concentração de ácido úrico no sangue designa-se por hiperuricemia. Pode dever-se, por exemplo, a doenças metabólicas ou renais, excesso de ingestão de proteínas ou ao consumo excessivo de álcool. Nos casos de gota ou de cálculos renais ("pedra" nos rins).
Valores de referência: 2,5 a 8 mg/dL
Albumina
É uma proteína produzida pelo fígado e também a mais abundante no sangue. O seu défice pode indicar uma alimentação desajustada, ou a presença de uma doença hepática.
Valores de referência: 3,5 a 5,5 g/dL
Colesterol
Esta "famosa" molécula chamada colesterol pode ser boa (HDL) ou má (LDL). Nas análises é, ainda, avaliado o colesterol total. Valores excessivos de LDL constituem um fator de risco para problemas cardiovasculares.
Esta é uma molécula esteroide encontrada em todas as células do organismo, sendo essencial para a formação das membranas celulares, síntese de hormonas, digestão das gorduras, produção de bílis, metabolização de vitaminas A, D, E e K, entre outras funções.
O colesterol doseado mais frequentemente nas análises clínicas é o LDL (Low Density Lipoprotein), o HDL (High Density Lipoprotein) e o colesterol total. Ao HDL é atribuído um papel protetor - popularmente chamado de colesterol "bom".
Contrariamente, níveis elevados de LDL (Colesterol mau) podem contribuir para a formação e desenvolvimento de placas ateromatosas nas paredes das artérias - aterosclerose -, podendo chegar à obstrução total e consequente isquemia dos respetivos órgãos afetados.
Valores de referência:
Colesterol Total – 150 a 199 mg/dL
HDL para os homens – mais de 35 mg/dL
HDL para as mulheres – mais de 45 mg/dL
LDL – menos de 130 mg/dL
Creatinina
É permanentemente produzida pelos músculos e eliminada através dos rins. A sua avaliação produz, por isso, informação importante sobre o funcionamento renal.
Valores de referência: 0,7 a 1,3 md/dL
Eletrólitos
São minerais que circulam no organismo. Por exemplo, o sal (sódio), potássio, cálcio e magnésio são eletrólitos.
Colaboram em muitas funções do organismo, designadamente no controlo da função dos nervos e músculos, do equilíbrio da quantidade de água no corpo e do equilíbrio dos níveis de ácidos.
Os rins são os responsáveis pela manutenção do equilíbrio adequado de eletrólitos no sangue.
A avaliação dos eletrólitos é muito importante para a monitorização de doenças como a hipertensão arterial, insuficiência cardíaca e doença hepática ou renal.
Valores de referência:
Magnésio – 1,1 a 2 mEq/L
Sódio – 135 a 145 mmol/L
Potássio – 3,6 a 5,1 mmol/L
Cloretos – 99 a 109 mmol/L
Glicose
A glicose é um hidrato de carbono fundamental para a produção de energia. No entanto, quando se encontra em excesso no nosso organismo, pode ser sugestiva de diagnóstico de diabetes.
Valores de referência: 70 a 105 mg/dL
Urina
A análise da urina pode ser realizada com o objetivo de detetar ou medir diversas substâncias presentes, designadamente, proteínas, glicose (açúcar), cetonas (substâncias químicas produzidas pelo corpo devido a falta de insulina), bilirrubina, urobilinogénio (pode estar associado a algumas anemias, a patologia hepática ou nos quadros de febre e de desidratação), leucócitos (pode indicar infeção ou inflamação em algum ponto do trato urinário) e sangue.
Este estudo permite detetar problemas como proteinúria (quantidade anormal de proteína), diabetes mellitus, problemas hepáticos e infeção ou inflamação do trato urinário. A densidade urinária traduz a capacidade do rim para concentrar ou diluir e o nível de hidratação.
Valores de referência: pH entre 5 e 9
Fezes
A análise das fezes permite detetar a presença de parasitas ou de sangue, contribuindo para auxiliar no despiste, por exemplo, de distúrbios digestivos e situações de cancro.
Valores de referência:
0 a 10 (negativo)
10 a 19 (positivo fraco)
20 a 100 (positivo)
100 ou superior (positivo forte
Coagulograma
É constituído por alguns exames que avaliam a presença de todos os fatores envolvidos na coagulação sanguínea.
Os principais exames são:
- Tempo de sangramento (TS);
- Tempo de Protrombina (TP);
- Tempo de Tromboplastina Parcial Ativado (TTPA);
- Tempo de Trombina (TT);
- Número de Plaquetas.
- Fontes
- Manual MSD – Versão Saúde para a Família. "Exames Laboratoriais relacionados a distúrbios sanguíneosf.
- Manual MSD – Versão Saúde para a Família. "Considerações gerais sobre a anemia".
- Manual MSD – Versão Saúde para a Família. "Considerações gerais sobre distúrbios das plaquetas".
- Manual MSD – Versão Saúde para a Família. "Considerações gerais sobre eletrólitos".
- Manual MSD – Versão Saúde para a Família. "Urinálise e cultura de urina".
- Manual MSD – Versão Saúde para a Família. "Exame de sangue oculto nas fezes".
- Unilabs. "Como ler os resultados das análises clínicas mais comuns?".