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Depressão: como lidar com este flagelo

Depressão: causas, sintomas e tratamento

Uma em cada quatro pessoas em todo o mundo sofre, sofreu ou vai sofrer de depressão.

Entre 1990 e 2013, a percentagem de indivíduos com depressão e/ou ansiedade em todo o mundo subiu quase 50%. Estima-se que, em 2015, o número de pessoas com depressão em todo o mundo chegava aos 300 milhões, o que representava cerca de 4,4% da população mundial. Esta perturbação é mais prevalente nas mulheres (5,1%).

Apesar destes números, cerca de metade das pessoas com depressão não recebe qualquer tipo de tratamento. Por isso, as perturbações mentais custam à economia global mais de 1 trilião de dólares por ano, número que podia ser reduzido com uma aposta na prevenção e no tratamento.

Em Portugal, a depressão atinge, ao longo da vida, aproximadamente 20% da população, sendo a principal causa de incapacidade.


O que é?

A depressão não é tristeza. Trata-se de um transtorno emocional/psicológico caraterizado por sentimentos de angústia e tristeza profunda. As perturbações depressivas podem dividir-se em duas subcategorias fundamentais:

  • a perturbação depressiva major/episódio depressivo está associada a sintomas como humor deprimido, perda de interesse e prazer e redução da energia. Esta perturbação pode ser classificada como ligeira, moderada ou grave.
  • a distimia é um tipo de depressão ligeira e crónica, com sintomas idênticos aos do episódio depressivo, ainda que menos intensos, são mais prolongados no tempo.

O diagnóstico da depressão deve ser feito por um especialista. Entretanto, é possível reconhecer alguns sintomas em si mesmo, para saber se está no momento de procurar ajuda médica e psicológica.

O diagnóstico de depressão e os seus subtipos é feito com base nos sintomas apresentados, em como a pessoa se apresenta fisica e emocionalmente no momento e numa breve análise do seu histórico de vida e familiar.

Além disso, a depressão é classificada de acordo com a sua intensidade - leve, moderada ou grave. Por isso, o especialista precisa fazer uma avaliação minuciosa para entender as condições que realmente levaram a ter depressão e como amenizá-la. A condição, aliás, muitas vezes está associada a outros transtornos psiquiátricos.

É importante distinguir a tristeza patológica daquela que é transitória, provocada por acontecimentos difíceis e desagradáveis, mas que são inerentes à vida de todas as pessoas, como a morte de um ente querido, a perda de emprego, os desencontros amorosos, os desentendimentos familiares, as dificuldades económicas.

A depressão, por sua vez, é patológica, costumando afetar o indivíduo por mais de 2 semanas, mesmo que não haja uma causa aparente. Há uma sensação constante de tristeza, desaparece o interesse por atividades que antes davam satisfação e prazer, e não há perspectiva de melhoria.

Para ser diagnosticada uma depressão, os sintomas acima descritos devem persistir há, pelo menos, duas semanas e serem acompanhados por outros como: alterações no apetite; mudanças nos padrões de sono; fadiga; dificuldades de concentração; indecisão; pensamentos suicidas; sentimentos de inutilidade; impotência e desespero.


Sinais e Sintomas

Os sintomas podem variar ligeiramente em função do tipo, da duração e da gravidade da depressão. Contudo, alguns dos mais recorrentes são:

  • falta de energia;
  • alteração do apetite e do peso;
  • mudanças nas rotinas de sono;
  • ansiedade;
  • dificuldade de concentração;
  • indecisão e inquietação;
  • sentimentos de inutilidade, desvalorização pessoal, culpa ou desesperança;
  • tristeza e aborrecimento;
  • irritabilidade, tensão ou agitação;
  • sensações de aflição, preocupação, receio e insegurança;
  • fadiga e lentidão;
  • falta de desejo sexual;
  • mudanças na memória e raciocínio;
  • dores de cabeça, digestivas, crónicas e mal-estar geral;
  • pensamentos agressivos ou suicidas.

Causas

Há vários fatores que podem contribuir para o surgimento da depressão. Entre eles destacam-se: os genéticos; os ambientais; as alterações nos neurotransmissores (substâncias químicas responsáveis pela comunicação entre os neurónios); e as caraterísticas da personalidade.

Traumas ou abusos vividos durante a infância ou o stress da vida adulta podem também ser responsáveis pelo desenvolvimento desta perturbação mental.

Embora a depressão possa atingir pessoas de qualquer idade, género ou estatuto social, ela é mais frequente em adolescentes e adultos jovens; em mulheres em idade fértil (especialmente depois de terem passado por um parto); e em indivíduos com mais de 60 anos.

Além disso, o risco de vir a ter uma depressão aumenta em situações de pobreza; desemprego; morte de um ente querido; fim de um relacionamento; doenças físicas; ou dependência de álcool ou de drogas.


Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico de depressão pode ser feito por um psicólogo ou por um psiquiatra que, para isso, avalia os sintomas descritos pelo doente, assim como as possíveis causas por detrás da perturbação depressiva. Como o estado depressivo pode ser um sintoma secundário a várias doenças, é importante sempre estabelecer o diagnóstico diferencial.

Quanto ao tratamento, ele também deve ser indicado por um psicólogo ou psiquiatra e depende de alguns fatores, pelo que pode variar de caso para caso, nomeadamente, de acordo com:

  • o subtipo de depressão;
  • os antecedentes pessoais e familiares;
  • a boa resposta a uma determinada classe de antidepressivos já utilizada;
  • a presença de doenças clínicas;
  • as caraterísticas dos antidepressivos: 90-95% dos pacientes apresentam remissão total com o tratamento antidepressivo.

Contudo, é frequente ser recomendada psicoterapia (analítica e cognitivo-comportamental) ou antidepressivos ou a conjugação de ambos os tratamentos.

Além disso, há subtipos de depressão que exigem a associação de outras classes de medicamentos – os ansiolíticos e os antipsicóticos, por exemplo – para obter o efeito necessário.

O suporte familiar e social é, também, fundamental para o sucesso do tratamento prescrito, bem como para uma mais rápida resolução do quadro depressivo.

Dessa forma, a depressão é uma doença que exige acompanhamento médico e psicológico sistemático. Quadros leves costumam responder bem ao tratamento psicoterápico.

Nos outros, mais graves e com reflexo negativo sobre a vida afetiva, familiar e profissional e em sociedade, a indicação muitas vezes é conjugação de ambos os tratamentos.


Prevenção

Além do sofrimento causado pela depressão, esta doença aumenta o risco do surgimento de outras doenças não transmissíveis como, por exemplo, a diabetes e as doenças cardiovasculares.

Não há uma fórmula básica para prevenir a depressão, visto que se trata de um quadro multifatorial, incluindo predisposição genética. Contudo, todos podemos contar com o bom-senso para conseguir uma qualidade de vida satisfatória.

É também preciso desenvolver a capacidade de enfrentar e resolver problemas, dificuldades e conflitos. E é possível: apenas 18% da população apresenta quadros depressivos ao longo da vida. É importante ressaltar que problemas todos temos. É necessário, dentro das possibilidades, aprender a lidar com eles e a não deixar que nos impactem demasiadamente.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, também é importante: implementar nas escolas programas que tenham como objetivo incutir o pensamento positivo nas crianças; intervir junto dos pais de crianças com problemas comportamentais, no sentido de evitar o surgimento da depressão; e fomentar exercícios de estimulação motora e cognitiva, junto dos mais velhos.

A saúde mental pode, ainda, sair reforçada através da gestão do stress diário; da melhoria da autoestima; de um sono revigorante e reparador; do convívio com a família e os amigos; das consultas de rotina para o controlo do estado de saúde.


Pedir ajuda

Depressão é uma doença como qualquer outra. Não é sinal de loucura, nem de preguiça e nem de irresponsabilidade. Perante sintomas indicadores de uma depressão, é essencial pedir a ajuda especializada de um psicólogo ou de um psiquiatra.

Caso suspeite que algum familiar ou amigo está a passar por uma depressão, deve também sugerir-lhe a marcação de uma consulta de especialidade, de modo a iniciar tratamento o mais depressa possível, visto que o diagnóstico precoce é o melhor caminho para a recuperação.

Além disso, existem algumas linhas de apoio que pode sempre contactar, se se sentir triste ou deprimido. Tome nota de algumas delas:

  • Linha SOS Voz Amiga (213 544 545 / 912 802 669 / 963 524 660), disponível diariamente das 16h às 24h;
  • Conversa amiga (808 237 327 ou 210 027 159), disponível das 15h às 22h;
  • SOS Estudante (239 484 020), disponível das 20h à 01h;
  • Voades – Vozes Amigas da Esperança (22 208 07 07), disponível das 20h às 23h;
  • Linha Saúde 24 (808 24 24), disponível durante 24 horas.